A história da Blue Moon

A próxima Blue Moon será em agosto de 2012 mas não por isso você verá uma lua azul no céu.

“Once in a Blue Moon…” Era uma vez, numa Lua Azul. A tradução literal sugere que a Lua adquiriu essa bela cor, por algum motivo qualquer. Mas não é bem assim. Essa expressão recorda uma história quase cômica contada nos países anglo-saxões no século XVI.

Quando um cavaleiro queria ser gentil com sua dama, mas sem assumir um compromisso mais sério, simplesmente dizia — Eu me casarei contigo numa noite de Lua Azul. Apesar da proposta romântica, a idéia era que esse momento nunca chegasse, o que adiaria a cerimônia indefinidamente não fosse por um detalhe: a Lua pode mesmo ficar azul.

Lua do amor impossível

É verdade que o falso pretendente sempre levava vantagem. A Lua só fica azul em situações muito particulares, raras mesmo, quando a atmosfera terrestre colabora de um jeito muito especial. Foi o que aconteceu aos indonésios durante a erupção do vulcão Krakatoa em 1883, quando foram vistas muitas luas azuis naquele ano, para desespero dos rapazes.

Em outras palavras, Blue Moon significa algo muito raro, como sugere a expressão em inglês que abre este texto, comum em livros infantis de língua inglesa, e cuja possível tradução seria algo do tipo “era uma vez, como nunca…”.

Blue Moon é um termo popular na Inglaterra e Estados Unidos, sendo usado com frequência em poesias e canções. Aliás, apesar da tradução tentadora, neste caso o melhor mesmo é usar o termo original, já que a expressão Lua Azul não tem relação com nenhuma lenda do folclore nacional.

A primeira ocasião em que a expressão Blue Moon apareceu na literatura foi em 1528, num poema pertencente a ninguém menos que o dramaturgo inglês William Shakespeare. Começar uma história dizendo que tudo aconteceu numa noite de Blue Moon pode significar uma lenda fantasiosa ou algo extremamente difícil de acontecer.

Aliás, Blue Moon tem diferentes conotações no idioma inglês. A música com esse mesmo título exprime solidão, melancolia. E para os que anseiam por um compromisso sério, a noite de Blue Moon é uma data mais que especial para iniciar um romance. Talvez um amor impossível.

Duas luas cheias num mês

Mas o fato é que ao norte do equador – não se sabe ao certo quando nem porquê – Blue Moon também passou a denominar a segunda Lua Cheia que acontece num mês.

Normalmente os meses têm apenas uma Lua Cheia, pois o período que separa duas fases iguais é de aproximadamente 29,5 dias. Mas todos os meses, exceto fevereiro, são mais longos que isso. Assim, com um pouco de sorte é possível que a natureza encaixe duas luas cheias num único mês. E isso acontece 7 vezes a cada 19 anos, em média.

Blue Moon em véspera de Ano Novo com eclipse

Blue Moons são raras. Blue Moons que acontecem em véspera de ano novo são ainda mais raras. Um eclipse lunar numa noite de Blue Moon em véspera de ano novo… Bem, isso já é ridículo!

Mas foi exatamente o que aconteceu em 31 de dezembro de 2009, último dia do Ano Internacional da Astronomia. O eclipse foi parcial e visível apenas na África, Europa, Ásia e parte do Estado norte-americano do Alaska, onde a foto abaixo foi tirada.

A Blue Moon aconteceu porque no dia 2 do mesmo mês foi Lua Cheia, permitindo que outra Lua Cheia surgisse no céu antes do mês seguinte. A última vez que houve uma Blue Moon em 31 de dezembro foi em 1990. Sua próxima oportunidade não virá antes do final de 2028.

Algumas pessoas insistem em dizer que aquela foi uma noite de Blue Moon, mas como se percebe na foto, a Lua está mais para orange — e dependendo do calendário que se use, ela pode nem mesmo ser a segunda Lua Cheia do mês (veja o quadro BRINCANDO COM O CALENDÁRIO). Mas quem liga para isso, se agora você já pode olhar para a mesma Lua de sempre com outros olhos?

Texto: tradução livre de SpaceWeather.com. Foto: Dave Parkhurst.

O azul que vem do fogo

Um luar realmente azul é ainda mais raro que uma noite de Blue Moon. Quando o satélite muda de cor é sempre por conta de algum fenômeno atmosférico, e portanto observado apenas localmente, por certas populações do globo. Além disso, muito mais freqüentemente a Lua fica vermelha ou alaranjada. É o que costuma acontecer durante os eclipses lunares totais.

Especialistas afirmam que para a Lua ficar azulada é preciso que o ar contenha apenas partículas em suspensão maiores que o comprimento de onda da luz vermelha (menos de um milésimo de milímetro). Só assim essa cor é completamente absorvida, deixando passar o azul. Isso é muito difícil de acontecer, mas erupções vulcânicas e incêndios florestais podem produzir tais nuvens de partículas.

No final do século XIX não havia dúvidas sobre luares estranhos (quer fosse Lua Cheia ou não), por causa dos efeitos da explosão do monte Krakatoa. Considerada a maior erupção vulcânica da história moderna, ela despejou poeira na atmosfera equivalente a uma explosão de 100 milhões de toneladas de dinamite (veja quadro abaixo).
O DIA EM QUE O MUNDO EXPLODIU – A ilha de Krakatoa, entre as ilhas de Sumatra e Java, na Indonésia, ficou com 1/3 de seu tamanho quando o vulcão do monte Perbuatan, supostamente extinto, entrou em erupção no dia 27 de agosto de 1883. Todas as formas de vida da ilha foram destruídas e provavelmente a tsunami mais destrutiva já registrada na história começou ali. Até o barulho do vulcão foi ouvido a milhares de quilômetros de distância. Fonte: Wikipédia.

Embora não seja de interesse dos astrônomos, a Blue Moon serve ao nobre propósito de atrair a atenção das pessoas para as belezas do universo, possibilitando textos de divulgação científica como este. Mas se a sua idéia for mesmo fugir de um compromisso, pense de novo – e verifique (abaixo) quando será a próxima Blue Moon. Repare que se depender da Lua, você não tem como escapar…

Brincando com o calendário

Todas as populações da Terra que têm a Lua acima do horizonte veêm a mesma fase lunar. Mas há um detalhe. Cada fase da Lua corresponde a uma situação geométrica bem definida na posição relativa entre Sol, Terra e Lua. Seja nova, crescente, cheia ou minguante – cada fase acontece em instantes críticos de um certo dia do mês.

Em outras palavras, existe uma “hora” para cada fase. Geralmente esse horário é calculado para o meridiano zero (o meridiano de Greenwich, também chamado UTC), sendo depois convertido para o fuso de cada país. É aí que um calendário lunar pode ficar diferente de outro.

Vejamos um exemplo. Em 2007, houve uma Lua Cheia no dia 1° de junho à 01h02min (UTC) e outra no mesmo mês, no dia 30, às 13h48min. Se você mora em Portugal o horário oficial é UTC e, portanto, houve uma Blue Moon em 2007 (no dia 30 de junho).

Mas o horário de Brasília é obtido subtraindo 3 horas do UTC (representamos UTC–3). Assim, a Lua Cheia do dia 1° caiu para às 22h02min do dia anterior, ou seja, 31 de maio. Portanto, no calendário lunar brasileiro não houve Blue Moon em 2007!

Por José Roberto V. Costa – do Zênite
Para acessar o gerador para saber de todas as Blue Moon’s até 2100, acesse o site do Zênite.

2 comentários em “A história da Blue Moon

  1. Nossa, que divertido! Nunca tinha parado pra pensar se de fato existira essa Blue Moon. Muito interessante mesmo!

    Aliás, tu conhece alguma poesia que envolve a Blue Moon?! xD

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